Última atualização em setembro, 2020
Inicialmente, acredito que a melhor forma de falar sobre segurança interna é relembrando aquela sensação de conforto oferecida na infância. Você se lembra de ser acolhido pelo colo de sua mãe quando aprontou alguma travessura? Lembra-se do olhar compreensivo de seus pais quando tudo em volta parecia julgamento?
Neste sentido, a emoção que eu quero retomar é aquela de criança, quando tudo parecia maior que a gente e difícil de resolver! Sabe aquela sensação de que tudo estava errado, era problema e alguém te salvava da encrenca ou te mostrava sua importância em forma de gesto!
No meu caso, um exemplo vívido para mim era o chá mate que minha avó fazia, pão em formato de cobrinhas e diversas guloseimas, preparadas com todo carinho para me receber! Quais são as memórias afetivas, desta época, que ainda aquecem seu coração?
Certamente, este tipo de memória afetiva é fundamental em tempos de transição. Isto porque, é preciso sentir uma segurança interna para se segurar nas bases quando o velho for desconstruído e o novo ainda não estiver suficientemente forte para surgir!
Segurança interna: uma base construída de amor
Certamente, são pequenos gestos com significados tão marcantes que podem ser lembrados durante uma vida inteira que fazem a diferença! Isto porque, são gestos de amor, de acolhimento que nos sustentam nas grandes tempestades! Através destes gestos a mensagem era clara: “Eu te compreendo e aceito como você é! Eu te amo mesmo quando você apronta alguma ‘arte'”. Eu quero demonstrar o meu amor por você!
Minha infância é recheada de histórias de “artes” e meu joelho conta muita coisa sobre o que aprontei, rs. Mas lembro que junto com a bronca e o merthiolate, vinha o sopro do amor. (Sou da época que este líquido era laranja e doía pra burro, rs!)
De modo interessante, todas estas lembranças me fazem pensar como era gostosa esta sensação de pertencimento! Afinal, era reconfortante saber que podíamos brincar à vontade, pois havia uma rede de segurança pronta para nos acolher. Inclusive, isso me faz lembrar dos trapezistas do circo, fazendo mil e uma estripulias com uma rede de segurança para garantir.
Para receber atualizações do site preencha:
Rede de segurança externa
De fato, a vida é cheia de dores e delícias! Mas é sempre reconfortante saber que temos pessoas que “sopram” nossas feridas, oferecem aquele chazinho acolhedor e são capazes de um afago, mesmo quando não compreendem o motivo de nossa tristeza. Elas constituem nossa “rede de segurança” externa!
Feliz ou infelizmente, nossa rede às vezes se amplia e às vezes se reduz a pouquíssimas pessoas. Tal qual a metáfora de que a vida é como uma estação de trem em que você conhece pessoas, algumas descem em alguns pontos e outras seguem viagem com você. Ouça a linda música de Milton Nascimento Encontros e Despedidas
À medida que o tempo passa, algumas pessoas vão ficando pelo caminho. Algumas, porque perderam a sintonia ou porque os interesses mudaram e as opiniões também, sei lá, sempre acho ruim este afastamento. Mas também, é inegável que algumas pessoas só fazem sentido em determinada fase de nossas vidas! Em outras fases, elas parecem deslocadas, sem muito espaço ou liberdade, às vezes tentando emperrar nosso crescimento, mesmo sem querer!
Logo, se prestar atenção, também verá que muitas vezes o seu papel fica deslocado num certo contexto! Ou seja, você não se encaixa e ao mesmo tempo não pode ou não consegue partir. Então, você fica lá como quem está na festa com a roupa errada. Estas são situações de transição em que o velho já não serve, mas o novo ainda não se instalou. Deste modo, o desconforto é patente e inegável, e a necessidade de aconchego e pertencimento se torna ainda mais forte, porque existe uma profunda sensação de solidão latejando.
Entre o velho e o novo
Neste sentido, trata-se, na verdade, de um profundo medo do novo, das transformações, queremos alguém que aplaque este caos interno! Isto é parecido com aquela sensação de quando você ia no parque de diversões e queria ir num brinquedo muito radical. Então, você observava a forma como as pessoas entravam e saíam do brinquedo, num impulso até perguntava “e aí qual foi a sensação?”. E os depoimentos só te confundiam mais, porque, na verdade, você sabia que as sensações eram únicas! Portanto, se quisesse saber como seria PARA VOCÊ, teria que se arriscar. Leia também Rótulos para produtos, não para pessoas! Quem é você para você?
Muitas vezes, o medo do “brinquedo radical” ou de novas experiências nos faz querer uma rede de segurança desesperadamente! Mas não somos mais crianças que precisam de suporte e validação dos mais velhos. Agora somos adultos capazes de construir uma rede própria de acolhimento que proporcione uma SEGURANÇA INTERNA.
Construa e nutra sua rede de segurança interna!
Neste sentido, gosto muito das reflexões de Gasparetto a este respeito, pois ele diz algo difícil, mas verdadeiro: “nós nascemos e morreremos sozinhos!” Ou seja, nós mesmos somos a única pessoa que nos acompanhará por toda a vida e além dela, por isso é fundamental que convivamos bem conosco. E, portanto, que banquemos nosso próprio jogo, nossos desejos e nossas experiências!
Contudo, vale a pena frisar que não estou negando o papel de familiares e amigos como um apoio. Mas quero destacar a importância de se construir uma rede de SEGURANÇA INTERNA, tecida com fios de autoestima, amor-próprio, autocuidado, autorrespeito e, claro, auto-acolhimento. Afinal, só VOCÊ sabe as dores e delícias que o passeio no brinquedo radical te proporcionou e conviver com elas é responsabilidade unicamente sua! Por isso, ame-se e acolha-se! A propósito, prepare aquele chá e se lembre do carinho que ele traz de sua memória afetiva, agora cultivar este carinho é com você! Tenho certeza absoluta que você é capaz e merece este carinho!
“Amar a si mesmo é o começo de um romance para toda a vida”. Oscar Wilde
