Merecimento e Suficiência: as armadilhas de “fazer por merecer”!

Última atualização em setembro, 2020

De antemão, convém ressaltar que neste texto abordarei o tema merecimento e suficiência para fazer uma transição rumo ao conceito de “suficiência!” Sendo assim, definitivamente, este será o último artigo sobre o tema merecimento! Claro, isto não quer dizer que o tema tenha sido esgotado. Entretanto, sinto que fiz meu esforço máximo de contemplá-lo em profundidade. Ao menos, com as condições que tenho neste momento!

Por acaso, você já pensou na relação entre merecimento e suficência? Inclusive, de que forma estas palavras se expressam na sua vida atualmente? Vamos refletir um pouco a respeito?

Borboleta e uma gota - merecimento e suficiência: as armadilhas de "fazer por merecer"
Imagem de Soorelis por Pixabay

A propósito, conforme escrevi no artigo anteriorMerecimento e Autoconhecimento: uma grande jornada interna! trata-se de uma jornada de consciência, portanto, é um processo! Desta forma, há evoluções e retrocessos! Sendo assim, tenho observado que construir novas rotas neurais nesta direção leva tempo, muita paciência e autocompaixão!

Por isso, neste artigo, o meu foco será o caminho do merecimento para a suficiência! Assim, suficiência é o conceito que pretendo explorar com maior profundidade nos próximos meses!

A dificuldade de SENTIR o merecimento

De fato, a partir do ponto de vista de que somos amor e MERECEMOS AMOR, podemos transbordar este amor! Claro, sei bem que parece uma lógica muito ingênua! Contudo, acredito que escrevi tantos artigos sobre merecimento, porque é muito mais “fácil” fazer numerosas análises do que SENTÍ-LO EFETIVAMENTE! Afinal, todos os artigos anteriores trataram de algum aspecto desta dificuldade! Agora, a proposta é transcender isso!

Deste modo, proponho que fechemos os olhos e busquemos como é: sentir merecimento? Neste sentido, para mim, é gostoso, confortável, adequado, relaxante… Inclusive, é como sentir que está tudo perfeito! Todavia, fiquei buscando esta sensação e sempre me vinham os pensamentos de erro, falta e escassez. Ou seja, se parece muito com minha dificuldade de meditar: quanto mais tento acalmar minha mente, mais ela se acelera!

Isto porque, apesar do paradoxo da situação, eu só me sinto segura com medo, com a falta, ou seja, dentro de minha “zona de conforto desconfortável”. Deste modo, fui tão doutrinada para mapear o que está errado que, pensar que tudo está perfeito, me traz a sensação de insegurança! Por isso, a grande questão de pano de fundo é como transitar da lógica da escassez para a lógica da abundância! Leia também A lógica da abundância: Merecimento, Suficiência e Plenitude!

Neste ponto, deixo o convite para você observar quanto tempo consegue sustentar a sensação de merecimento?! Inclusive, na minha experiência, parece até um desafio para minha mente encontrar alguma situação falha! Afinal, toda vez que busco SENTIR o merecimento, minha mente aparece com inúmeras justificativas e prerrogativas contrárias!

Eu MEREÇO e SUSTENTO precisa ser um mantra

Deste modo, cabe destacar que em algum lugar, talvez num vídeo da psicóloga Pamela Magalhães, ouvi uma frase marcante:

“Só conquistamos aquilo que conseguimos sustentar!”

Neste momento, achei a frase perfeita! De forma clara, ela define muito bem minha dificuldade para MERECER! Isto é, se eu me sentir merecedora, vão me achar metida, vão pensar que… (os outros); Então, se eu me sentir merecedora, vou deixar de fazer o meu melhor, vou acreditar que já é o bastante e vou parar de crescer… (escassez); Ou, se eu me sentir merecedora… (o vazio). Definitivamente, não sei me sentir merecedora e sustentar “os outros”; “a escassez” e, principalmente, “o vazio”!

Claro, eu sei pensar que preciso fazer mais e melhor, o velho “fazer por merecer!” Desta maneira, sei que preciso me aprimorar, que preciso me esforçar para conquistar e dar valor às coisas… Entretanto, não sei MERECER se não for competindo, comparando ou tendo meu esforço externamente reconhecido! Aliás, vale a pena ler Merecimento e Educação: crenças limitantes construídas na infância! Sob este ponto de vista, o caminho de MERECIMENTO é totalmente novo! Por isso, não tenho referências e, para usar um termo da psicologia, não tenho repertório! Em outras palavras, não tenho histórico disso para me amparar num processo de mudança:

Repertório: comportamento que um organismo pode emitir, no sentido de que o comportamento existe em um nível acima de zero, foi modelado ou, se extinto, pode ser rapidamente reinstalado. O organismo não tem que se engajar no comportamento para ele estar em seu repertório (p. ex., um rato que aprendeu a percorrer um labirinto tem o ‘correr no labirinto’ no seu repertório, mesmo quando não está no labirinto). (Catania, 1999, p. 420). Disponível em https://comportamentoesociedade.com/2013/08/05/notas-sobre-repertorio-comportamental/

A perfeição para MERECER

Assim, facilmente, percebo que um fantasma que ronda a ideia de merecimento é “a perfeição”! De tal modo, vale ressaltar que, na prática, sabemos que ela é impossível de ser alcançada! Porém, na minha experiência, buscar perfeição é algo que dá dignidade. Isto é, se não buscarmos a perfeição, parece que estamos fazendo “nas coxas”, de qualquer modo, com relaxo e desmazelo, como diria minha mãe!

Inclusive, de uma forma mais didática, basta dizer que esta é a experiência, bastante comum de mostrar um boletim para os pais. Apesar da maior parte das notas serem máximas, havia uma nota regular. Contudo, o feedback é: “Por que esta nota também não é máxima como as outras?!” Com efeito, queremos a perfeição, queremos cobrar e apontar defeitos para não RECONHECER o merecimento do outro.

Além disso, quem nunca vivenciou aquelas situações de feedback onde há um cinismo absurdo nas avaliações? Geralmente, os feedbacks e avaliações são apenas um protocolo para demonstrar que “manda quem pode e obedece quem tem juízo!”. Com isso, apesar de todo bla, bla, bla do “vamos melhorar juntos”, temos uma situação de desigualdade de posições! Sem dúvida, trata-se de uma oportunidade para a chefia reafirmar seu poder sobre o empregado através de um verniz de autodesenvolvimento da equipe!

Dificuldade de enxergar o merecimento

Sob este prisma, parece que se reconhecermos o merecimento de alguém, daremos o aval para que esta pessoa se dedique menos a partir de agora. De fato, parece que temos medo de admitir o merecimento do outro da mesma maneira que temos receio de não sermos merecedores!

Aliás, o interessante é que, apesar de estar fazendo estas reflexões, recentemente fui convidada a fazer uma avaliação. Então, rapidamente meu marido disse que avaliaria a pessoa com a nota máxima. Por outro lado, eu fiquei hesitante, desconfortável, embora não tivesse nada desabonador contra o avaliado!

Então, neste momento, examinei meu desconforto e me lembrei da época em que avaliava meus alunos! Certa vez, recebi um feedback deles dizendo que eu sempre queria mais, que nunca estava suficientemente bom! Inclusive, naquele momento, eu achei positiva esta avaliação, porque eu sabia que eles poderiam se empenhar mais! Afinal, eu também sempre pensei que era preciso “fazer por merecer”!

Entretanto, agora, revendo a situação por outros ângulos, eu percebo minha dificuldade de ver suficiência e merecimento em mim mesma e também nos outros! Assim, vale a pena ler Perfeição e perfeccionismo como ferramentas de autocobrança!

Perfeccionismo: a armadilha do merecimento

Deste modo, proponho aqui uma reflexão importante: Quantas vezes temos medo de nos sentirmos merecedores e atrairmos alguma desgraça para nossa vida? De fato, parece algo muito maluco, mas de forma muito instigante Brené Brown em: A Coragem de ser Imperfeito, me trouxe maior consciência para este aspecto:

Aprendemos que se entregar à alegria é, na melhor das hipóteses, se
preparar para a decepção e, na pior, um convite à tragédia. E lidamos com a questão da autovalorização. Será que merecemos nossa alegria, sendo pessoas tão incapazes e imperfeitas? Com tantas crianças famintas e tantas guerras no mundo, quem somos nós para sermos dignos de alegria? Se o oposto da escassez é “o bastante”, então, ao praticar a gratidão nós reconhecemos que há o bastante e que nós somos o bastante. (Sextante: 2016, p. 94)

A propósito, preciso confessar que li e reli inúmeras vezes este parágrafo! Isto porque, antes pensava que somente EU tinha medo de comemorar e ser feliz, de me sentir merecedora. No entanto, ao longo destes meses, ficou claro como é uma dificuldade genuína e cultural! Deste modo, percebo ainda que está fortemente atrelada à muitas outras questões como a vergonha, o medo, a escassez… De certo, aos poucos, tudo isso vai se descortinando quando nos propomos a refletir sobre o merecimento. Neste sentido, vale a pena refletir um pouco sobre este aspecto com a própria autora Brené Brown – Escutando a Vergonha e Ted Talk: Brene Brown – O poder de vulnerabilidade

Busca por plenitude: merecimento e suficiência!

Desta forma, ao pensar que sou merecedora, imediatamente, minha mente encontra um defeito! Isto é, um erro ou um motivo para me mostrar que não é bem assim! Sem dúvida, há inúmeros condicionamentos familiares, sociais e educacionais para justificar este caminho, como já abordei em artigos anteriores. Contudo, apesar de todo este processo de tomada de consciência, eu percebo muito medo de merecer!

Com efeito, este medo se refere à sensação de estar desafiando a vida do tipo: olha como eu estou feliz e nada vai tirar esta alegria de mim! Então, repentinamente, vem aquela angústia, aquele medo da vida, da morte e de tudo o que eu não posso controlar!

Assim, inexplicavelmente, parece que me sentir merecedora invocaria um poder imenso da vida de me dar um golpe e me fazer ficar menor que um grão de areia. Claro, sei que minha cultura judaico cristã colabora para esta noção de falsa humildade que retira o meu valor e me faz querer entrar no círculo vicioso de “sofrer para merecer!”

Portanto, eis aqui o desafio de reflexão a partir de agora: descobrir o merecimento no caminho da suficiência! Deste modo, encontrar a plenitude num caminho de merecimento e suficiência que tragam mais paz ao meu coração. Isto é, saber do meu valor (sem ser mais nem menos do que ninguém) e buscar plenitude nas minhas conquistas diárias! Em suma, vale ressaltar as palavras citadas acima dizendo que o oposto de escassez é O BASTANTE! Assim, descobrir este “bastante” será o foco dos próximos artigos!

Gratidão pela leitura! Namastê! _/\_

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    Sobre Gisele Mendonça

    Cientista social e mestre em sociologia, com experiência na área educacional. Desenvolvi trabalhos em ambiente escolar, com crianças e adolescentes, trabalhei também na formação de gestores públicos, no formato presencial e em capacitações em Ambiente Virtual de aprendizagem, o que me inspirou a acreditar no potencial do Ensino à Distância! Atuo como curadora de conteúdos de autoconhecimento e autodesenvolvimento! Além disso, escrevo artigos para Bee Family: Um lugar para pais e mães inspiradores, que desejam educar seus filhos a partir do seu processo de autoeducação! 
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