Última atualização em setembro, 2020
De antemão, vale lembrar que dor é algo que buscamos evitar a todo custo! Às vezes, evitamos tanto a dor, que provocamos uma dor ainda maior para anestesiar algo que tememos sentir. E, com a dor emocional não é diferente! Você já sentiu aquela dor no peito, aquele nó na garganta, uma angústia ou ansiedade que equivaliam a uma dor física?
Por vezes, ficamos fugindo, fingindo que está tudo bem, enquanto por dentro estamos com uma ferida apodrecida de pus, precisando de cuidados. Mesmo quando corajosamente (a partir do coração) nos dispomos a curar a ferida, é desconfortável lidar com nossa dor emocional. Neste momento, nos perguntamos: será que isso é mesmo necessário? Será que não dá pra gente fingir que está tudo bem e seguir com a sujeira embaixo do tapete?!
Personagem: dá identidade, mas também sufoca!
Entretanto, assumir a responsabilidade pelas próprias feridas, olhar para esta dor emocional e querer curá-la é um ato de profundo amor por si mesmo e exige bastante determinação. Segundo Laura Gutman, todos temos um personagem que desempenhamos socialmente para sermos valorizados e amados. Sob esta lógica, a construção deste personagem se dá na primeira infância, a partir das referências dos cuidadores, especialmente da mãe. Leia também: Rótulos para produtos, não para pessoas! Quem é você para você?
Neste ponto, este personagem pode ser o bonzinho, a esperta, o preguiçoso… Assim, características que foram sendo observadas ou impostas e NÓS, de alguma forma, adotamos como carapuça para sermos reconhecidos, para termos uma identidade. Inclusive, a autora Laura Gutman chama a atenção sobre esta questão com muita profundidade no livro “O poder do Discurso Materno: introdução à metodologia de construção da biografia humana”:
Palavras ditas, repetidas várias vezes a partir de determinada lente – a de nossa mãe – que, em nosso caráter de crianças pequenas, adotamos como a única lente possível a partir da qual viver a vida. O modo como então perpetuamos esse “olhar”, carregando uma longa herança de ordens, preconceitos, medos, moral, conceitos filosóficos, religiões e segredos, nos deixa devastados. Sem saber quem somos. (p.10)
Infelizmente, não temos a menor consciência do quanto este poder pode interferir nos desafios que enfrentamos atualmente! Afinal, quantas crenças limitantes são passadas de geração em geração, perpetuando padrões nocivos à existência e felicidade das pessoas? Vale a pena ler Merecimento e Limpeza de Padrões Familiares: honrar para merecer!
Honra aos antepassados: um caminho de integração!
Sob esta perspectiva, vale ressaltar que a proposta aqui não é desmerecer nossa mãe ou cuidadores. Isto porque, eles fizeram o melhor que puderam com as ferramentas que tinham! Mas NÓS podemos assumir as rédeas de nossa vida, colocar consciência em nossos processos e enxergar as coisas de modo mais claro e objetivo. Enfim, somos nós que temos a possibilidade e a RESPONSABILIDADE de construir nossa história e, para isso, reconstruir o que nos trouxe até aqui é fundamental.
Aliás, despretensiosamente, comecei a construir a árvore genealógica de minha filha. Inclusive, pensei em deixar a ela um presente: a história de sua raiz! E, de forma interessante, me peguei mais dedicada à parte paterna da história, rs. Logo percebi que estava querendo construir a árvore dela e não a minha. Desta maneira, isso me fez perceber como ainda tenho dificuldade de integrar minha própria história, quantas mágoas alheias eu comprei? Quantas pessoas eu exclui por um motivo ou outro ou por nenhum?!
Com efeito, estou revisitando algumas feridas, alguns lugares que eu curo, curo e continuam latejando. E, eu sei por que latejam!!! Porque, simplesmente, não consigo ACEITAR o que aconteceu, o que as pessoas puderam dar e fazer… Assim, quando não aceito o outro, automaticamente também estou num processo de não me aceitar! De fato, quando não aceito esta dor emocional, eu me determino a ficar presa à ela e suas possibilidades de cura ficam inacessíveis! Leia também Turbulência: desapegue do conhecido e se reinvente para fluir!
A vida lhe nega milagres, até que entenda que tudo é um milagre.
A vida encurta seu tempo, para você se apressar em aprender a viver. Bert Hellinger
Constelação Familiar para amenizar a dor emocional
De fato, para quem tiver interesse no assunto, vale a pena pesquisar um pouco sobre Constelação Familiar. Destaco aqui três ordens do amor presentes neste método que eu considero muito interessante para trabalhar estes emaranhamentos que tiram nossa paz! São elas:
- HIERARQUIA: cada um ocupa o seu lugar e deve ser respeitada a hierarquia de acordo com a precedência cronológica. Quem veio antes merece honra e respeito. Relações em que filhos tentam ser pais dos pais causam desequilíbrio no sistema familiar.
- EQUILÍBRIO ENTRE DAR E TOMAR: as relações precisam ser equilibradas entre o que cada um dá e recebe. A expressão “tomar” expressa o “usufruir plenamente” o que é recebido. A exceção aqui é a relação entre pais e filhos que jamais poderá ser equilibrada, pois os pais dão a vida aos filhos e isso é tão grandioso que é irretribuível.
- PERTENCIMENTO: é preciso reconhecer e incluir todos que fizeram parte da família, isso inclui abortos, bebês recém-nascidos e outras pessoas que não foram aceitas pela família.
A propósito, convém ressaltar que Constelação Familiar é algo que sei muito superficialmente! Isto porque, acho muito complexo e sei que alguns pontos são polêmicos. Entretanto, desde que me propus a refletir sobre essas leis, acredito que alguns insights poderosos surgiram e me fizeram amadurecer emocionalmente para lidar com questões ainda dolorosas. Vale a pena assistir ao vídeo da Tatiane Guedes abordando sinteticamente estas leis.
Abandone seu personagem e seja você mesmo!
De todo modo, queria trazer aqui a reflexão sobre a consciência que temos dos personagens que encarnamos em nossa vida. Quanto este papel está confortável ou está sufocante? Quanto desempenhar este personagem afeta todas as nossas relações e compromete nossa felicidade em ser quem, realmente, somos? Neste sentido, por vezes, o personagem nos sufoca, nos causa dor emocional e, apesar, de ser um lugar muito conhecido, precisa ser abandonado para que sejamos felizes!
Portanto, a liberdade deste personagem cabe a nós! Não sei a autoria, mas vale aquela poderosa frase que a vida é 10% o que acontece comigo e 90% como eu reajo a isso. Neste ponto, a Constelação familiar traz ferramentas interessantes para ocuparmos o nosso lugar de fato e assumirmos as rédeas de nossa vida. Certamente, nossos antepassados fizeram o melhor que puderam e passaram o bastão. À nós cabe honrar, agradecendo com reverência, e continuar nossa jornada caminhando com consciência e autorresponsabilidade.
Gratidão pela leitura! Namastê! _/\_ Gostou do texto? Para receber novos posts preencha abaixo.