Merecimento e Educação: crenças limitantes construídas na infância!

Última atualização em setembro, 2020

O padrão de merecimento é o quanto conseguimos nos sentir capazes e merecedores de conquistar nossos sonhos. E, quem nunca sentiu aquela dúvida do próprio valor para conquistar seus sonhos? Neste artigo farei uma análise sobre os momentos iniciais em que crenças de falta de valor ou merecimento aparecem em nossa vida. Ou seja, estabelecerei uma relação entre merecimento e educação, bem como padrões de crenças limitantes que tendem a se repetir no sistema familiar.

Casa de bonecas com uma família - Merecimento: padrões familiares
Imagem de Dean Moriarty por Pixabay

No artigo anterior Merecimento: você já parou para pensar se realmente merece? fiz questão de partir de uma base conceitual investigativa para apreender minhas próprias crenças sobre “merecimento”. Neste artigo, meu foco ainda é investigativo, mas sob um viés diferente, mais coletivo!

No momento em que assisti novamente um vídeo da Ines Rosangela Merecimento/Exercício para Criança Interior, tive um insight importante: quando recebemos as mensagens de invalidação em nossa vida? Na infância, claro! Afinal, nosso registro mais profundo de quem somos, onde estamos e como lidamos conosco, com o outro e com o mundo são construídos em nossos primeiros anos de vida!

Merecimento, Educação e Violência 

A palavra violência, para mim, sempre esteve relacionada às vias de fato. Contudo, depois da leitura de O Poder do Discurso Materno de Laura Gutman isso mudou RADICALMENTE! Afinal, durante a leitura – uma das mais pesadas da minha vida -, pude perceber que existem muitas formas de violência! Inclusive, acredito que nesta cultura de dominação em que vivemos, TODOS sofremos algum tipo de violência! Neste sentido, há muitas violências sutis que estão, supostamente, relacionadas ao processo de educação!

Assim, quem nunca escutou frases do tipo: “Engole o choro!”; “Criança não tem querer!”; “Manda quem pode e obedece quem tem juízo!”; “Cresça e apareça” . E, por aí vai uma infinidade de pérolas que, às vezes, nos vem à boca quando lidamos com nossos próprios filhos! Estas são frases, inclusive, passadas de geração em geração, que refletem esta cultura de dominação. Ou seja, trata-se desta necessidade dos mais “fortes” dominarem os “mais fracos”, ou melhor, os mais frágeis ou vulneráveis! Eis o modelo de condicionamento de nossa sociedade! E, como tal, estão fortemente presentes no sistema de educação, nos afastando largamente do sentimento de merecimento!

Deste modo, a família tradicional se constituía numa relação hierárquica básica em que o pai chefiava a casa (relações econômicas), enquanto a mãe cuidava da educação das crianças! Este papel oscilava muito de família para família, mas o esquema de hierarquia e obediência pela violência (explícita ou implícita) imperava como norma de conduta social aceita! Sob este prisma, filhos bem educados são filhos obedientes! Isso, necessariamente, invalida qualquer treino de autonomia, senso crítico ou mesmo o sentimento de amor incondicional e de merecimento!

“Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.Jean Paul Sartre

A Força do Discurso

No livro, Laura Gutman destaca a importância do discurso criado pelas mães: Ah, minha filha é boazinha, um anjo! Ou, por exemplo: Ah, meu filho é um preguiçoso, não gosta de estudar! Veja também Rótulos para produtos, não para pessoas! Estes discursos são personagens que, ironicamente, vão moldando nosso comportamento para que possamos corresponder às expectativas – boas ou ruins – de nossas mães ou cuidadores.

Esta violência, como estou chamando aqui, não é algo consciente, mas sim uma reprodução social! Se você for mãe ou cuidador de criança te convido a ler Pedidos deslocados: as consequências das necessidades não atendidas. A mãe ou cuidadores apresentam o mundo para a criança e nomeiam este mundo: “discurso”! Este processo, na maioria das vezes, é tão automatizado que reproduz a forma como as pessoas foram educadas anteriormente! Segundo Laura Gutman:

“O fato é que desde o início alguém nomeia como somos, o que nos acontece ou o que desejamos. Isso que o adulto nomeia (geralmente a mãe) costuma ser uma projeção de si mesmo sobre cada filho. Diremos que é caprichoso ou chorão, muito demandante, exigente, silencioso, tímido, cabeça dura, divertido, mal-humorado ou atrevido. É verdade? Para a mãe, sim, porque tudo depende do ponto de vista do qual obervamos”. (O Poder do Discurso Materno: 2011, pg 25)

Nesta perspectiva, a educação pela violência e a perpetuação dos discursos no universo familiar criam uma engrenagem de repetição de padrões difícil de ser identificada. Isto porque, há uma reprodução em massa de projeções, medos, frustrações, expectativas, preconceitos e muitas outras feridas do sistema familiar. Desta forma, não há uma perspectiva de merecimento associada a educação como algo inerente ao ser humano, muito pelo contrário!

Padrões de Repetição

De fato, vivemos um modelo de reprodução de padrões! Assim, por vezes, pessoas que são feridas se tornam as próximas a ferir e, geralmente, isso ocorre de forma inconsciente! De maneira bastante sensível este aspecto é apresentado na animação Vida de Maria, demonstrando de que forma repetições de padrões familiares ocorrem! 

Esta animação é uma produção brilhante, pois abarca um universo de realidades em apenas 8 minutos! Dentro deste universo, podemos notar a relação entre mãe e filha e tudo que o papel da mulher sustenta na vida daquela família em várias gerações! Neste retrato, é fácil obervar o poder do discurso materno e também a força das crenças que são passadas através do processo educacional!

De modo geral, fomos educados reprimindo nossas emoções, com medo de desobedecer às regras e o sistema. A grande questão norteadora era adequar-se às expectativas de nossos pais, à escola, à sociedade… e isto, era imposto pelo medo, pela sanção, pelo castigo e pela coerção implícita ou explícita! Ex: “Come tudo para ganhar a sobremesa!”; “Precisa tomar banho para ficar cheiroso, o que os outros vão pensar?!”; “Precisa parar de usar chupeta, os outros vão dizer que você ainda é bebê!”; “Nossa, ainda usa fraldas, que vergonha!”. Todas estas frases estimulam o sentimento de medo e vergonha que estão muito, mas muito distantes de qualquer sensação de merecimento! Esta educação pela opressão não é capaz de criar pessoas que sintam merecimento, mas este é uma condição importante para acessar felicidade e realização.

Rompendo Padrões

Convém ressaltar que para romper estes padrões de repetição é necessária muita sensibilidade. Afinal, para observar e também QUERER enxergar isso é doloroso! Isto porque, trata-se de um processo de profundo autoconhecimento e educação emocional para suportar a realidade que se descortina:

“Obter segurança é a necessidade básica quando nascemos. Se não obtemos aquilo de que necessitamos, logo aprendemos a nos defender dos impulsos que não coincidem com a realidade externa. Por exemplo, se sentirmos raiva de nossa mãe, rapidamente inibiremos esse sentimento, porque necessitamos dela para nos abrigar e amparar, de maneira que não é muito prudente colocar-se contra ela em épocas iniciais. O que fazemos então é gerar mecanismos de defesa, para fazer crer a nós mesmos que não nos acontece aquilo que realmente acontece. É assim que organizamos nossos personagens, que são nosso melhor refúgio. Por isso, não importa tanto o que acontece, mas o que dizemos a nós mesmos sobre isso que nos acontece”. (Gutman, L. O Poder do Discurso Materno: 2011, p. 192)

Diante disso, te convido a observar: qual a história que você conta sobre si? Além disso, te proponho: que tal investigar a árvore genealógica da família?Por vezes, é possível descobrir destinos muito semelhantes aos nossos! Sob este aspecto, estes exercícios de auto-observação facilitam a percepção de padrões de repetição que se originam especialmente em crenças!

Desta forma, as crenças são a grande linguagem de comunicação familiar, perpetuadas através do discurso! Por exemplo: “Dinheiro é sujo!” ou mesmo “Dinheiro não dá em árvores!” Aparentemente, são apenas frases, mas estes ditados populares refletem um contexto muito maior, com implicações muito mais profundas! Por isso, te sugiro mais um exercício: liste os ditados populares que mais ouviu durante sua infância e que ainda fazem parte do vocabulário da família!

Merecimento e Educação: despertando a Consciência

A animação Vida de Maria, citada anteriormente, nos impacta de diversas maneiras: socialmente, pensamos ser um ciclo sem solução; enquanto, individualmente, relembramos os padrões que estamos a perpetuar sem que tenhamos consciência! Eis a palavra que soluciona ambos os aspectos: CONSCIÊNCIA! Apenas por meio da conscientização de nossos comportamentos, crenças e valores podemos iniciar um processo de questionamento crítico! Assim, a principal ferramenta a ser utilizada é a auto-observação, com um olhar atento sobre o passado, focado no presente e cuidando do futuro! Sob esta perspectiva é possível acionar o merecimento através de um trabalho de educação emocional!

Deste modo, a palavra que melhor acompanha o processo de consciência é DESPERTAR! Isto é, sair do piloto automático e tomar as rédeas da própria vida: parar de culpar este ou aquele, papai e mamãe, governo, situação econômica ou seja lá o que você utiliza para jogar suas frustrações! Assumir a responsabilidade sobre a própria vida, a cura das próprias feridas e DESPERTAR para o universo da auto-responsabilidade, do amor-próprio e da autonomia!

Sendo assim, compartilho um vídeo de 59 segundos que me inspirou a trabalhar a questão do merecimento comigo mesma e com minha pequena: Vamos ter um dia realmente bom. Inclusive, compartilho também uma frase que surgiu como um insight e têm guiado minhas reflexões: “Só podemos conquistar aquilo que podemos sustentar!” Deste modo, somente nos sentiremos MERECEDORES do que realmente nos PERMITIRMOS merecer! Portanto, busque este processo de educação emocional para merecer o que realmente deseja em sua vida!

Caso sinta vontade, compartilhe sua opinião nos comentários. No próximo texto, trabalharemos ferramentas para auxiliar este processo de conscientização e cura de feridas relacionadas ao merecimento!

Gratidão pela leitura! Namastê! _/\_

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    Sobre Gisele Mendonça

    Cientista social e mestre em sociologia, com experiência na área educacional. Desenvolvi trabalhos em ambiente escolar, com crianças e adolescentes, trabalhei também na formação de gestores públicos, no formato presencial e em capacitações em Ambiente Virtual de aprendizagem, o que me inspirou a acreditar no potencial do Ensino à Distância! Atuo como curadora de conteúdos de autoconhecimento e autodesenvolvimento! Além disso, escrevo artigos para Bee Family: Um lugar para pais e mães inspiradores, que desejam educar seus filhos a partir do seu processo de autoeducação! 
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