Merecimento: você já parou para pensar se realmente merece?

Última atualização em dezembro, 2020

No artigo anterior – A lógica da abundância: Merecimento, Suficiência e Plenitude! – mencionei os três pilares de uma nova consciência! Dentro desta perspectiva, o merecimento ocupa um lugar central para refletir sobre a busca de mais propósito e significado em nossa vida. Isto porque, se nos julgamos merecedores, somos capazes de nos comprometermos, verdadeiramente, com nossos sonhos mais autênticos. Contudo, se temos dúvidas sobre o nosso próprio merecimento, acabamos sabotando nossas capacidades e nossa busca por objetivos que nos trariam a realização que tanto almejamos.

Imagem de Sasin Tipchai por Pixabay

Assim, a cada dia têm ficado mais clara a necessidade de refletir sobre estes tópicos, pois em minha própria história pessoal preciso curar aspectos que ainda doem. Por isso, vamos começar refletindo sobre merecimento!

Definição Conceitual de Merecimento

Merecimento, conforme o próprio dicionário significa:

substantivo masculino Qualidade em função da qual se merece prêmio, apreço, estima etc. Valor, mérito, importância. substantivo masculino plural Habilitações, habilidades, capacidades.

Nesta perspectiva, merecer está associado à consequência de uma ação, ou seja, uma reação à algo, uma recompensa! Assim, quantas vezes agimos movidos exclusivamente pensando na recompensa? Quantas vezes nos desconectamos do presente e ficamos focados no que poderemos receber no futuro?!

Infelizmente, hoje vejo que esta é uma forma de viver que nos leva à frustração! Isto ocorre porque ficamos tão concentrados no destino que deixamos de aproveitar a viagem. Certa vez, escutei uma frase do músico, pesquisador e educador Estêvão Marques que resume o que quero propor aqui: “Expectativa é frustração com hora marcada!”

De fato, as coisas nunca ocorrem de acordo com o que esperamos. Às vezes, nos decepcionamos mesmo quando alcançamos o que tanto desejávamos! Outras vezes, sai tudo diferente do que imaginávamos e é muito melhor! Portanto, se vivermos contando com as recompensas ou com os medos, projetados no futuro, encolheremos nossa forma de ser e estar na vida! Como bem expressa a música de Moska: O que você faria se só te restasse um dia?

Carpe diem?!

Esta expressão carpe diem sempre me foi explicada como um modo extremamente libertário de viver, beirando, inclusive, à irresponsabilidade! No entanto, ao pesquisar um pouco notei que a tradução não seria “Aproveite o dia”, mas sim “colhe o dia”! Conforme segue trecho do poema de Horácio que aconselha Leuconoé a não confiar no amanhã:

“Tu não indagues (é ímpio saber) qual o fim que a mim e a ti os deuses
tenham dado, Leuconoé, nem recorras aos números babilônicos. Tão
melhor é suportar o que será! Quer Júpiter te haja concedido muitos
invernos, quer seja o último o que agora debilita o mar Tirreno nas
rochas contrapostas, que sejas sábia, coes os vinhos e, no espaço
breve, cortes a longa esperança. Enquanto estamos falando, terá
fugido o tempo invejoso; colhe o dia, quanto menos confia no de
amanhã”.  Wikipédia

Ao que me parece, a grande preocupação de Horácio e do Epicurismo era encontrar uma forma equilibrada de viver se permitindo o prazer! Isto não significa levá-lo às últimas consequências, mas sim usufrui-lo e equilibrá-lo para que o medo não impeça os prazeres da vida!

Epicurismo é um sistema filosófico, que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com a ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. Significado de Epicurismo

Sendo assim, a filosofia epicurista visava a felicidade como uma busca de prazer mediada pelo equilíbrio! Muito diferente da filosofia hedonista que centraliza o “prazer pelo prazer!”. Leia Epicurismo e hedonismo

Por fim, me perdoem toda esta digressão filosófica feita para verificar e concluir que minhas bases conceituais estavam equivocadas! Em síntese, acredito que Carpe diem seja um bom conselho: Colha o dia de hoje sem tantos medos e expectativas sobre o futuro!

Mérito e Dor

vitória de um lutador de boxe - merecimento: você realmente merece?
Imagem de Rudy and Peter Skitterians por Pixabay

Conforme fiz questão de definir inicialmente, o merecimento parece estar relacionado com esforço e recompensa! Inclusive, isto pode ser exemplificado de várias maneiras: sofro na Terra para depois merecer o Céu! Eu sofro na academia para depois merecer a sobremesa! Eu trabalho feito uma condenada para merecer o salário e as férias! Corriqueiramente estas associações são feitas sem que possamos observá-las de forma crítica e, desta forma, acabam sendo “naturalizadas”!

Obviamente, elas estão baseadas na ideia de “sofrer para merecer!” Isto porque, costumamos enaltecer o quanto sofremos para que as pessoas cheguem à conclusão que, de fato, merecemos! Assim, buscamos fugir da inveja – missão impossível – e tentamos conseguir a aprovação consensual – outra missão impossível – para o nosso sucesso!

Quando alguém elogia seu corpo, sua promoção ou sua ascensão econômica a primeira coisa que você diz é: Você não sabe como sofri, como suei a camisa para chegar até aqui! Este discurso típico fica muito evidente na entrevista de Ayrton Senna no Programa do Jo Soares, na qual o piloto demonstra desconforto quando o entrevistador fala sobre dinheiro. Vale a pena conferir: Entrevista completa de Ayrton Senna no Jô Soares Onze e Meia | tbtSBT (01/11/18)

Deste modo, parece que o assunto merecimento, mérito ou mesmo sucesso, não passam pelo prazer. Ao contrário, necessariamente parece que o caminho precisa ser pela dor para que se torne “digno” e socialmente assumível!

Meritocracia

Assim, a ideia do mérito é muito difundida em nossa cultura em diferentes esferas: social, educacional, política e econômica! Neste contexto, há a ideia da meritocracia, ou seja, a associação entre mérito e poder como se fosse uma lei da física de ação e reação! Da mesma maneira que se relaciona esforço e recompensa, como por exemplo o aluno que estuda para tirar uma boa nota! No entanto, não se observam os pontos de partida ou mesmo a individualidade de cada ser neste processo.

Particularmente, sempre acreditei na meritocracia como uma forma de estimular as pessoas à aprenderem a pescar! Vale ressaltar que tive algumas experiências profissionais em Escolas Estaduais que me fizeram perceber que as pessoas tendem à se acomodar quando recebem benefícios sem uma contrapartida! Entretanto, há pessoas que aproveitam os benefícios como uma grande oportunidade e conseguem ressignificar sua condição social e sua história – eu mesma fiz isso!

Portanto, este é um assunto delicado demais e não merece generalizações preconceituosas, nem abandono de políticas sociais! Afinal, esta ideia antiquada de esforço e desempenho acaba por legitimar e naturalizar muitas injustiças sociais!

Este é um assunto que considero um verdadeiro vespeiro, porque sua complexidade nos desafia a tentar simplificá-lo, empobrecendo suas possibilidades de interpretação! Por isso, não vou tratá-lo na esfera social, mas sim no âmbito individual e pessoal! Mas deixo o convite para assistirem ao documentário A educação proibida, que propõe uma outra visão sobre a educação e os valores necessários para uma nova sociedade!

Merecimento: puro e simples

Inexoravelmente, a ideia de merecer ou não merecer está atrelada à comparação, avaliação e julgamento! Afinal, sempre que questionamos o merecimento de alguém estamos julgando as condutas desta pessoa: o quanto se sacrificou ou qualquer outro quesito passível de comparação e avaliação!

Assim, quando julgamos os outros, automaticamente também estamos nos julgando! Deste modo, escolhemos olhar o mundo: preto X branco; 8 X 80; Certo X errado; Céu X inferno… E todas as dicotomias possíveis e imagináveis! Leia também: SER e TER: eis a questão! Como você vive a sua prosperidade?

Sob esta ótica, vivemos muito tempo acreditando nas dicotomias, apontando o dedo para os outros, aguardando nossa “absolvição”. Isto é, numa visão competitiva em que preciso apontar o dedo para o outro, porque se ele for ruim significa que eu sou melhor. Entretanto, não percebemos que estamos todos interconectados e não vamos sair do buraco pisando na cabeça de ninguém!

“Nós nao podemos resolver um problema, com o mesmo estado mental que o criou”. Albert Einstein

Transbordando amor a partir do merecimento

Então, e se a lógica fosse outra?! Se partíssemos do pressuposto que todos merecemos o melhor e que é uma questão de acreditar e buscar isso no dia-a-dia? E, se pudéssemos permitir que o amor inundasse nosso coração e nosso olhar sobre o mundo e as pessoas? E, se pudéssemos exercitar na prática a bela expressão: Namastê?! Isto é, se exercitássemos pensar que há um Deus que habita em mim e no outro a quem me dirijo?!

Assim, TODOS indistintamente MERECERIAM o meu respeito. Ao respeitar e amar o próximo seria possível criar um círculo virtuoso de amor. Talvez, esta seja a intenção máxima da famosa frase:

“Ame o próximo, como a ti mesmo”. Jesus Cristo

Portanto, ao me amar de modo incondicional e verdadeiro, eu posso transbordar este amor ao próximo e, desta maneira, crio uma corrente de amor que se nutre e se expande! Você já assistiu ao filme A Corrente do Bem, vale a pena se inspirar com o exemplo de Trevor que faz de uma lição de escola, um exemplo de como viver a vida! Confira mais dicas em Filmes e Vídeos.

Gratidão pela leitura! Namastê!

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    Sobre Gisele Mendonça

    Cientista social e mestre em sociologia, com experiência na área educacional. Desenvolvi trabalhos em ambiente escolar, com crianças e adolescentes, trabalhei também na formação de gestores públicos, no formato presencial e em capacitações em Ambiente Virtual de aprendizagem, o que me inspirou a acreditar no potencial do Ensino à Distância! Atuo como curadora de conteúdos de autoconhecimento e autodesenvolvimento! Além disso, escrevo artigos para Bee Family: Um lugar para pais e mães inspiradores, que desejam educar seus filhos a partir do seu processo de autoeducação! 
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