SEU FOCO É VOCÊ: aproprie-se de suas próprias questões!

Última atualização em setembro, 2020

FOCO é uma palavra que repetidamente aparece em meu caminho como algo essencial. Inclusive, num mundo que nos convida o tempo todo à dispersão, manter-se focado é um grande desafio. Infelizmente, insistimos em apontar, julgar, fofocar… e nos perdemos, essencialmente, de nosso foco prioritário: nossa própria vida.

Mulher com olhos recortados olhando para si mesma - seu foco é você!
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Convém lembrar que em posts anteriores, mencionei a paixão que ando sentindo pela obra de Laura Gutman. De certo modo, o Universo mais rico em que ela escreve é o da maternidade. Mas, quando vejo, a amplitude de suas reflexões, percebo que vão reverberando em diferentes aspectos da minha vida.

A lógica do patriarcado

A partir disso, vale ressaltar que Laura Gutman faz uma crítica muito bem elaborada à lógica do patriarcado, pela qual o mais “forte” domina os mais “fracos”. Ou seja, condicionou-se a pensar que o homem (por conta da força física) domina a mulher e todos dominam a criança. Nesta lógica, a criança é apenas um objeto de poder em função da imensa vulnerabilidade com que chega ao mundo. E assim, os mais “fracos” vivem à mercê dos mais fortes.

Entretanto, quero crer que já somos capazes de perceber o quão atroz esta lógica se apresenta. Afinal, já somos capazes de nos mostrarmos evoluídos o suficiente para construir uma outra lógica para viver! Isto é, uma lógica na qual seja possível INCLUIR e INTEGRAR ao invés de dominar e submeter.

Conforme Laura Gutman descreve com clareza e sabedoria em Mulheres visíveis, mães invisíveis:

A presença do bebê e suas ‘exageradas’ necessidades evidenciam uma crua realidade: muitas vezes, as mães e os pais – aparentemente adultos – continuam sendo, na verdade, bebês terrivelmente carentes de amor e de cuidados. Continuam arrastando privações históricas de tal maneira que suas próprias necessidades parecem ser prioritárias e merecedoras de toda a atenção. Portanto, a quem satisfazer primeiro? À criança recém-nascida ou à criança que, em seu âmago, ainda chora? A guerra invisível entre adultos e crianças trata-se disso. Os adultos podem continuar reproduzindo as guerras emocionais de geração em geração ou, então, entender que uma criança satisfeita e amada hoje em dia abandonará qualquer guerra no futuro. (p. 27)

O estado de guerra começa dentro de nós

Com base nisso, é preciso amar e amparar a criança que habita e chora dentro de nós! Desta forma, é preciso incluir e integrar nossa própria sombra para que possamos reverberar isso de dentro para fora. Assim seremos capazes de criar um mundo mais justo e amoroso. Leia também: CRIANÇA INTERIOR: a importância de cicatrizar antigas feridas!

De fato, acreditamos por muito tempo que para sobreviver teríamos que atacar e nos defender. Inclusive, estamos tão automatizados nesta prática que esquecemos de olhar se o cenário é realmente de guerra… Infelizmente, percebo muito como as pessoas estão na defensiva, praticando o “se não está do meu lado, está contra mim!”.

Dificilmente, conseguimos conversar de forma mais aberta, disponível para escutar e aprender! Isto porque estamos sempre com o discurso pronto, a defesa armada para “contra-atacar”. Deste modo, temos medo de permitir que o outro fale, seja ou se mostre diferente de nós. Sob este prisma, precisamos desesperadamente estar corretos, senão o peso da culpa, do erro, do medo nos esmagam.

Aproprie-se de suas questões para manter o foco

Deste modo, perdemos a imensa possibilidade de TROCAR EXPERIÊNCIAS, tão preocupados que estamos em defender e provar que o NOSSO ponto de vista é o melhor! Leia também Existe uma ponte chamada DIÁLOGO no caminho para o amor! Desta forma, deixamos de usar nossos sentidos de modo poderoso e passamos a nos comportar como zumbis, reproduzindo o discurso da TV, das redes sociais e das mídias de massa. OU vivemos na defensiva com medo que a verdade do outro possa colocar em dúvida a forma como vivo, com medo que a grama do vizinho seja mais verde e revele algum fracasso em minha vida.

Para refletir mais profundamente sobre isso recomendo o filme “O estado das coisas” com Ben Stiller, confira outras dicas de filmes e vídeos. De forma bem humorada e bastante interessante o personagem Brad reflete sobre sua vida se comparando com colegas da faculdade. O filme aborda de modo muito provocante o quanto somos bombardeados pelos sentimentos de medo e inveja, instigados pelas redes sociais. Quando iniciamos o processo de comparação, deixamos pra trás toda a riqueza e particularidade de nossa trajetória e, literalmente, perdemos o foco!

Afinal, não é a toa que temos o poder do livre arbítrio, estamos aqui para sermos o melhor que pudermos e cada um com sua vida e seu desafio. Desta forma, podemos trocar, compartilhar experiências e inspirações, mas vale a pena ver se a pessoa está sintonizada no mesmo canal, senão vira desgaste apenas. Aliás, você acaba se transformando nesta pessoa com o discurso pronto para contra atacar, rs.

Seu foco é você

Às vezes, nossa incapacidade de aceitar as escolhas dos outros nos mostram o quanto estamos na defensiva, querendo trazer alguém para nossa forma de ver as coisas. De fato, confesso que este aspecto ainda é bastante desafiador para mim!

Em muitos momentos, eu tenho vontade de compartilhar todos os insights que tenho e todas as descobertas que faço. Mas daí desanimo quando percebo o quão distanciadas as pessoas estão! Daí percebo também o quanto muitas vezes é uma opção delas estarem onde estão! De repente, me dou conta que eu também estou a querer impor a minha lógica como a melhor! Irônico, não!

Novamente, as palavras da Laura Gutman ressoam no meu coração: é preciso adotar uma lógica de inclusão, em que o diferente possa conviver, em que haja espaço para que necessidades diferentes convivam e se harmonizem.

Certamente, quando estamos em paz conosco, atendendo às necessidades emocionais de nossa criança interna, somos capazes de enxergar com facilidade as outras crianças internas feridas alheias. Neste momento, somos capazes de cessar o julgamento e dar espaço para a compaixão. Leia também EMPATIA: palavra-chave de qualquer relacionamento que valha a pena!

No fundo, todos somos crianças precisando de colo, carinho e atenção. Ou seja, todos queremos amor, aceitação, respeito! E, quando oferecemos isso a nós mesmos, com foco em nossas questões, transbordamos esse amparo e aconchego para os demais.

Gostou do texto? Para receber novos posts preencha abaixo.

    Seu e-mail (obrigatório)


    Seu comentário é importante para nós!

    Comentário(s)

    Sobre Gisele Mendonça

    Cientista social e mestre em sociologia, com experiência na área educacional. Desenvolvi trabalhos em ambiente escolar, com crianças e adolescentes, trabalhei também na formação de gestores públicos, no formato presencial e em capacitações em Ambiente Virtual de aprendizagem, o que me inspirou a acreditar no potencial do Ensino à Distância! Atuo como curadora de conteúdos de autoconhecimento e autodesenvolvimento! Além disso, escrevo artigos para Bee Family: Um lugar para pais e mães inspiradores, que desejam educar seus filhos a partir do seu processo de autoeducação! 
    Adicionar a favoritos link permanente.

    Reflita conosco!