Suficiência: vida sem gabaritos e fora da “ilusão do controle”!

Última atualização em setembro, 2020

Estes dias me ocorreu uma percepção absurda, mas muito real: suficiência pressupõe uma vida sem gabaritos! Incrível, mas, por muitas vezes, eu vivi como se a vida tivesse um gabarito pronto! Ou seja, em algum momento, alguém sentaria comigo e me daria parabéns por meus acertos e aprendizados e me apontaria itens a serem melhorados.

mãos tirando algema - suficiência: vida sem gabaritos
Imagem de Лечение наркомании por Pixabay

Por acaso, você já se observou neste movimento de aguardar validação? Lembra-se da sensação de erros e acertos nas provas da escola? Por vezes, nos comportamos na vida aguardando aquelas validações ou temendo reprovações! Isto restringe demais nossas possibilidades de vivenciar tudo o que temos potencial para viver! Deste modo, acho interessante citar a frase do livro Você pode curar a sua vida de Louise Hay:

Você compreendeu que provas e notas eram só para ver o seu nível de conhecimento numa determinada época ou foi daquelas crianças que deixavam medir seu valor? (p.59)

A ilusão dos gabaritos

Desta forma, projetei muitos estereótipos do que era certo, do que era errado e do que era “esperado” de mim. Assim, vivi perseguindo um modelo ideal para SER filha, professora, esposa, mãe, mulher, amiga… e todos os outros papéis ou funções que desempenhei socialmente. E, tudo isso para quê? Simplesmente, para tentar controlar a vida!

Contudo, a vida é muito mais complexa que isso ou, talvez, muito mais simples! Afinal, a suficiência pressupõe uma confiança de que está tudo certo da forma como está e que não precisa de um gabarito para validar. Ou seja, esta ideia de gabarito é apenas um recurso da minha mente para querer CONTROLAR as coisas e ATENDER às expectativas externas! Ah, esta necessidade de controlar, este medo de confiar e me soltar, me entregar na vida… Neste sentido, a maternidade, em diversos momentos, me mostra como é preciso CONFIAR.

De fato, vivemos num mundo em que a escassez e o medo são insuflados o tempo todo. Isto ocorre para que busquemos conforto na sociedade do consumo e nos padrões socialmente instituídos de certo e errado. Desta forma, muitas vezes, acreditamos que os gabaritos representam apenas mais um produto ou um personagem / identidade a ser buscada para saciar nossa necessidade de aprovação e pertencimento.

Entretanto, neste caminho em direção à suficiência, uma vida sem gabaritos é pressuposto básico! Inclusive, vale a pena ouvir a entrevista com a psicóloga Pamela Magalhães: A busca de si mesmo. para inspirar a vida com esta liberdade toda!

A necessidade de controle

Antigamente, o problema era falta de informação e certa dificuldade para ter acesso ao conhecimento. Agora, há um excesso desgastante de informações e muita dificuldade para filtrar o que realmente importa! Afinal, estamos cercados de notícias e, em tempos de fake news, muitas vezes é trabalhoso descobrir o que é verdade e possui real embasamento científico ou, ao menos, credibilidade.

Por isso, sinto que estas informações, muitas vezes, nos exigem algumas posturas e posicionamentos. Ou seja, que implicam muito mais do que uma simples e inocente escolha. Isto porque, hoje temos muito mais consciência dos encadeamentos de nossas escolhas, das consequências de nossas posturas e, às vezes, pensar nisso é uma tarefa árdua e desgastante demais! Assim, é convidativo pensar que existe um gabarito a ser seguido, uma fórmula mágica de sucesso e felicidade como vendem os trabalhos de autoajuda mais populares.

Para exemplificar a dificuldade no processo de tomada de decisão, vou usar a escolha de um simples pastel na feira! Ah, que imagem deliciosa se entregar a uma guloseima depois das compras e desfrutar um pastel quentinho acompanhado de um caldo de cana saboroso! Contudo, agora, eu penso na péssima escolha alimentar que estou fazendo tanto para mim quanto para minha família!

Inclusive, penso que posso estar expondo minha família a contaminações e bactérias por conta da questão higiênica de locais improvisados como feiras e food trucks. E assim, penso no tipo de gordura e ingredientes, nas mãos das pessoas que manuseiam o pastel… e o que era prazer, pronto, virou tortura! Na realidade, eu me sinto reprovada nos gabaritos referentes à alimentação saudável e isso me entristece, me faz sentir culpa. E lá se foi o prazer… Você já experimentou esta sensação de deleite e em seguida o sentimento de culpa?

A grande ilusão do controle

Há uma frase muito citada, apesar de não saber a autoria: “Muitos querem a mudança, mas poucos querem mudar!” E quanta sabedoria existe em tão poucas palavras! Isto porque, esta necessidade de controle é nossa zona de conforto, nosso gabarito da vida seguindo uma estrada reta em busca de aprovação e aplauso.

Assim, estamos insatisfeitos e queremos que as coisas mudem, mas que isso comece pelos outros. Provavelmente, gostaríamos que tudo mudasse, apenas para comprovar nossas supostas verdades! Estas que se apoiam em nossas visões de mundo, nossos “gabaritos”, que gostaríamos de instituir para todos! Vale a pena ler Paradigmas pra quê? A vida pode ser um infinito de possibilidades!

Entretanto, tais visões, profundamente enraizadas em velhos preconceitos, não se sustentariam no contexto das mudanças desejadas. Então, nosso desejo de mudança se perde quando percebemos que nossas verdades não ficariam intocadas como pedras sagradas que norteiam nosso caminho! Assim, fica evidente que toda tentativa de controle é uma grande ilusão, que às vezes impomos à nós mesmos ou aos outros, em busca de algo em que se apoiar na incerteza constante da vida!

Armadilhas do perfeccionismo

Agora, a questão é o quanto estamos dispostos a caminhar e aprender com a trajetória? A provocação é: quanto estamos atentos aos sinais da estrada para observar novas trilhas, com mata fechada, mas que nos trazem aprendizados incríveis pelo simples ato de percorrê-las? Eis que a maternidade é minha trilha de aprendizado e inúmeras descobertas sobre minha filha, sobre mim mesma e sobre visões de mundo e da vida que eu nem sabia que tinha! Ou seja, sem gabaritos mentais, mas muito alinhada ao meu coração! Leia também FÉ: acreditar sem ver! Como anda sua Conexão Profunda?

Recentemente, me propus o desafio de ressignificar a definição de suficiência, porque sinto esta palavra como chave na minha experiência atual! Afinal, suficiência sempre me soou como algo limitado, imperfeito e insatisfatório. Assim, eu buscava a perfeição, o irretocável, eu buscava o máximo! Então, notei que esta busca pelo máximo me deixava mergulhada na escassez, procurando defeitos a serem trabalhados, coisas ruins para serem consertadas e tudo isso me atrapalhava DESFRUTAR! E o que é a vida se não pudermos desfrutar dela com satisfação e prazer?

Sob esta lógica, gosto muito do livro da Brené Brown, A Coragem de Ser Imperfeito, em que ela considera que o perfeccionismo pode ser um vício e alerta:

Para assumir a verdade sobre quem somos, de onde viemos, em quem acreditamos e sobre a natureza imperfeita de nossa vida, precisamos estar dispostos a pegar leve nas cobranças e apreciar a beleza de nossas falhas e imperfeições; precisamos ser mais amorosos e receptivos com nós mesmos e com os outros; precisamos conversar conosco da mesma maneira com que conversamos com alguém que amamos. (p.99)

Suficiência: vida sem gabaritos!

Neste momento, percebi que a plenitude, satisfação e alegria que eu tanto procurava estavam ligadas à suficiência. Neste sentido, tenho aprendido a importância de desapegar para clarear a mente e fazer minhas escolhas de forma serena! Desta maneira, se eu estiver ciente que encontrarei a suficiência na vida sem gabaritos, serei capaz de RELAXAR mais nas minhas escolhas!

E, para concluir a reflexão sobre o pastel da feira, rs. Na verdade, pensar tanto sobre o pastel é uma enorme armadilha da minha mente! Afinal, em inúmeros restaurantes, quando se conhece a cozinha, há uma enorme desconfiança dos pratos.

Hoje, penso que quem quer controlar tudo milimetricamente deve cozinhar em casa e, ainda assim, terá que se render às mágicas da culinária que é cheia de mistérios. Afinal, posso executar uma receita “perfeitamente” e nunca ficará com o mesmo sabor da comida que minha mãe faz! Moral da história: PERFEIÇÃO NÃO EXISTE, nem gabaritos! Por isso, busque a suficiência na vida sem gabaritos, sem receitas milagrosas de sucesso e bem viver! Claro, dicas podem inspirar, mas jamais ditar regras porque somos únicos!

Neste sentido, percebo que “gabaritos”, nada mais são que uma enorme necessidade de controle! Assim, CONFIANÇA é o antídoto quando a questão é controle. Portanto, para mim, a suficiência é constituída de EQUILÍBRIO! Isto significa, no meu caso, cozinhar a maior parte das vezes, buscando saúde para minha família, mas me permitindo DESFRUTAR de um pastel num dia cansativo! Ou seja, para alcançar a suficiência é preciso RELAXAR e aprender a DESFRUTAR de forma livre, leve e solta! Como já diz a sábia música: “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo!”

Gratidão pela leitura! Namastê!

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    Sobre Gisele Mendonça

    Cientista social e mestre em sociologia, com experiência na área educacional. Desenvolvi trabalhos em ambiente escolar, com crianças e adolescentes, trabalhei também na formação de gestores públicos, no formato presencial e em capacitações em Ambiente Virtual de aprendizagem, o que me inspirou a acreditar no potencial do Ensino à Distância! Atuo como curadora de conteúdos de autoconhecimento e autodesenvolvimento! Além disso, escrevo artigos para Bee Family: Um lugar para pais e mães inspiradores, que desejam educar seus filhos a partir do seu processo de autoeducação! 
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